6. CARACTERIZAÇÃO DA
ÁREA
6.1. CARACTERIZAÇÃO
FÍSICA
Geologicamente a área está
totalmente inserida na formação Serra Geral, que é constituída por sequências
vulcânicas, predominantemente basálticas, intercaladas por depósitos
areníticos, que formam traps entre-camadas, mas apresentando o ponto de vista
petrográfico, toda uma suíte de tipos litológicos, desde o basalto até os
riolitos ácidos. Este magmatismo data do Mesozóico, iniciou-se há 250 milhões
de anos, com pulsos de aproximadamente 30 milhões de anos em cada derrame,
atingindo uma espessura de aproximadamente 1.100 m, sotoposta ao arenito
Botucatu.
Localmente em Santa Bárbara,
foram encontradas intercalações de derrames colunares e amigdalóides ácidos,
com traps de arenito de possança não identificada, mas que devido ao intenso
fraturamento das rochas basálticas, constituíram ótimos depósitos aquíferos.
Tectonicamente é possível
observar que as rochas locais apresentam falhas com intenso fraturamento de
borda e movimentos tanto horizontais como verticais. As feições mais notáveis
são as falhas de Caxias do Sul, orientada a 18º NE, representada por inúmeras
escarpas e a Falha Santa Bárbara – 35º NW, que é responsável pela drenagem do
rio Faxinal e baixo São Marcos. Os
falhamentos secundários e mais jovens são de pequena amplitude, mas em grande
número, tendo como orientação geral 60º NE.
O lençol freático é quase sempre
superficial, devido à pequena espessura do solo e rico aquífero, propiciando
pelos inúmeros traps estruturais da região.
Existem na referida área “olhos
d'água” que pela lei nº 4.771/65, no artigo 2º, alínea C, coloca-os como local
de preservação permanente: “ nas nascentes, ainda que intermitentes e nos
chamados olhos d'água, qualquer que seja a situação topográfica, numa
raio de 50 m de largura.”
A topografia é extremamente
acidentada, apresentando pequeninos platôs, encostas íngremes, falésias e as
drenagens sempre encaixadas nas estruturas tectônicas.
6.1.1 DESCRIÇÃO DA GEOLOGIA DA
ÁREA
Esta área encontra-se numa zona
de falhas escalonadas, associada à fratura, onde observa-se desde a BR 116 que
o local conhecido como Gruta da Santinha apresenta magnifico espelho de falha,
constatando-se os seguintes degraus: arroio, estrada e paredão. Dentro da área observa-se outra falha
geológica, onde o bloco noroeste se elevou em relação ao bloco sudeste a o
próprio riacho que corta a parte da área esta inserido numa fratura. Todo este conjunto
foi cortado pela falha do Arroio Faxinal. Toda a área e suas adjacências
ocorrem dois eventos de falhas, coincidindo com as duas direções principais do
Rio Grande do Sul.
A gênese destas falhas e
fraturamentos de gravidade está associado a gênese da bacia do Paraná, do
soerguimento dos Andes e à expansão do Atlântico, que culminaram com geofissuras
no craton sulbrasileiro e com o extravasamento do vulcanismo básico. Esses
esforços de distensão e compressão ocasionaram essas falhas de gravidade.
Segundo a gênese, pode ser deduzido e confirmado in loco as seguintes feições tectônicas
e morfológicas.
a) degraus escalonados, formando
feições de Horst e Grabens
b) drenagem (arroios) encaixados
nas falhas e fraturas
c) depósitos sedimentares mal
selecionados (piedmont)
d) espelhos de falhas/ fraturas,
queda d'água (cascatas)
e) formação de olhos d'água
(drenagem)
f) drenagem encaixada nas
falhas/fraturas e canyons
g) desvios e anomalias de
drenagem
h) escarpas abruptas
i) presença de rochas
cataclásticas vitrificadas e com minerações preenchendo as fraturas.
De acordo com a Câmara Municipal
de Caxias do Sul regime de urgência-Moção à Fepam – Fundação Estadual de
Proteção Ambiental, contrária à instalação da central de resíduos industriais
da localidade de Santa Bárbara, Ana Rech. No artigo 4, em matéria vinculada
pelo Jornal Pioneiro de 08 e 09 de julho de 1995, sábado e domingo, sob o
título “Fenômeno Basáltico Sustenta a Cidade”, entrevista dada pelo
geólogo Sergio Matanna, onde o mesmo confirma uma cicatriz que atinge parte do
Mato Grosso do Sul, da qual resulta em uma falha geológica que se estende de
Norte a Sul atravessando os Estados de Santa Catarina, a partir de
Florianópolis e Rio Grande do Sul, até
atingir um pedaço do Uruguai. Sérgio Matanna cita o geólogo Sandor Grehs em
relatório que o mesmo fez, a pedido da Comissão de Defesa Ambiental de Ana Rech
e entregue a FEPAN. Com referencia a falha diz: “É a maior falha geológica da
região.” A falha passa sob o viaduto da Avenida Júlio de Castilhos, pelo Campo
do Caxias, segue até a Gethal e costeia o Bairro Nossa Senhora de Fátima, sob a
reserva da Maestra e por Santa Bárbara em Ana Rech.
6.1.1.1 SOLO
O solo na área de Santa bárbara é
pouco espesso em regiões dos pequenos platôs, onde o terreno é rochoso, sendo
quase ausente e pouco significativo junto às drenagens que normalmente
apresentam lajeiros basálticos Nas encostas o solo é conglomerático e solto, geralmente
de origem coluvionar, contendo pedras, seixos e matacões de rochas e uma matriz
argilosa, muito orgânica, apresentando elevada permeabilidade.
6.1.2 DESCRIÇÃO DO
RELEVO E HIDROGRAFIA
A presença de um segmento da maior falha
geológica do município de Caxias do Sul, que localmente está associado a uma
coalescência de olhos d'água alinhados, representando surgências de água
subterrânea, caracterizados também por um bioindicador botânico de perenidade,
denominado Senecio jurgensis (margarida do banhado). A partir do
cruzamento com uma fratura forma um
pequeno curso d'água perene, afluente do Arroio Faxinal, que é o Arroio Santa
Bárbara.
A área apresenta sedimentos
grosseiros inconsolidados, mal classificados, muito heterogêneos, com frações
desde blocos rochosos até argilas descontínuas, não mapeáveis na escala de
trabalho, que às vezes se confundem com coluviões no bloco estrutural da falha
geológica que baixou. Os mencionados depósitos sedimentares, que sofreram
transporte à curta distância, representam situações de instabilidade no terreno
não só por suas características de gênese, mas também devido ao posicionamento desfavorável na
topografia.
As fotografias aéreas de 1975
utilizadas para o estudo fotogeológico, demonstraram que a maior parte da área
selecionada estava desprovida de mato, em função da ação antrópica referentes
as atividades agrícolas. Entretanto, atualmente o que foi área desmatada se
apresenta como mata secundária regenerada, muito semelhante a mata original demostrando
que a tendência natural do ecossistema é voltar a ser floresta.
É importante enfatizar a incidência
de mata original, com aspectos de pouca alteração que podem ser caracterizados
tipicamente como refúgio segundo conceitos modernos, hoje definidos em
programas e projetos nacionais e internacionais como de máxima prioridade de
proteção, devido a sua importância na biodiversidade correspondendo a elementos
da Mata Atlântica.
6.1.3 DESCRIÇÃO DO
CLIMA
As condições climáticas da área
em estudo são típicas de clima temperado, onde se repetem períodos prolongados
e constantes de precipitação pluviométrica, continua na época mais fria
(inverno) e alternando períodos secos e quentes no verão, onde as precipitações
são mais esparsas, mas de maior volume. A faixa situa-se na região subtropical,
de clima intermediário, tendo temperaturas variáveis entre 0º e 30º, inverno e
verão, respectivamente.
O clima frio, subtropical da
região e a elevada umidade, aceleram o processo de desagregação das rochas, com
a formação de solos ricos em matéria orgânica.
6.1.3.1 VENTOS
O vento é o ar em movimento, que
se move de uma região de pressão elevada a outra de baixa, em consequência do
aquecimento desigual da atmosfera. Em Caxias do Sul como em quase todo o
Estado, os ventos predominantes tem a direção SE, com velocidades médias
maiores nos meses de setembro, agosto e outubro e menores médias de velocidade
em abril, maio e março.
Meses
|
jan
|
fev
|
mar
|
abr
|
mai
|
jun
|
jul
|
ago
|
set
|
out
|
nov
|
dez
|
Direção predominante (1º)
|
N
|
S
|
S
|
N
|
N
|
N
|
N
|
N
|
SE
|
N
|
N
|
S
|
Frequência da ocorrência
(%)
|
38
|
27
|
29
|
35
|
50
|
63
|
63
|
63
|
32
|
38
|
43
|
32
|
Velocidade média
|
2,8
|
2,6
|
1,9
|
1,9
|
2,4
|
2,2
|
2,6
|
2,6
|
2,7
|
2,1
|
2,5
|
2,0
|
Direção predominante (2º)
|
SE
|
N
|
NE
|
S
|
NW
|
NW
|
S
|
S
|
S
|
NE
|
S
|
NW
|
Frequência da ocorrência
|
23
|
22
|
23
|
23
|
30
|
26
|
18
|
18
|
26
|
24
|
29
|
21
|
Velocidade média
|
2,8
|
2,0
|
2,8
|
2,1
|
2,5
|
3,0
|
2,7
|
2,2
|
2,4
|
2,9
|
2,5
|
2,8
|
RECUPERAÇÃO DO ARROIO SANTA
BÁRBARA – ANA RECH – RS
Léa Beatriz Ramos Vargas
Luciane Baretta
Márcia da Silva Gomes
Maria Cristina Vargas da Silva
Unisinos – Geologia ambiental para
Biólogos – São Leopoldo – RS 2000
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