Dia primeiro
de Abril de 2020, Quarta-feira, em isolamento há mais de uma semana devido à pandemia de
coronavírus, mas felizmente numa época em que as tecnologias de comunicação
estão bem avançadas e podemos nos manter conectados virtualmente. Fomos
informados que num dos pontos do Arroio Santa Bárbara, próximo ao campo de
futebol, um caminhão jogou muito lixo no arroio. Solicitamos à Codeca a
retirada do lixo, estávamos aflitos pois na sexta-feira a previsão era de
chuva. O nível do arroio estava bem baixo e com a chuva havia o perigo das
águas levarem o lixo!
Como o entulho continuava lá, apesar de nossos
esforços em acionar órgãos públicas, resolvemos agir. Pelo wats surgiu a ideia
de nos juntarmos para fazer o serviço, todos animados, combinamos o uso de
máscara, luvas e botas. A maioria não tinha visto ainda a barbárie e achava que
daríamos conta. Os que tinham ido ver
não deram fé, mas estavam solidários em resolver o assunto.
Ao
chegarmos ao local o susto foi grande. Estávamos na rua asfaltada olhando para
baixo onde havia uma obra da prefeitura com aqueles canos enormes que
atravessam a rua por baixo, onde o arroio passa. De cima do barranco podíamos ver uma grande quantidade de descarte cobrindo totalmente o pouco de água do arroio. Alguém
falou em desistir e voltar para casa, acho que fui eu. Dois voluntários
chegaram depois, Gabriel e Michele e, isentos de dúvidas, desceram o barranco e
iniciaram o serviço. Não tivemos
escolha, fomos ajudar também! Um pau comprido com um prego na ponta facilitou "pescar" as roupas de dentro do arroio.
Roupas?
Sim, a impressão que tivemos era que um brechó de roupas usadas teve toda a sua
mercadoria jogada no pobre arroio quase sem água. Bem assim. As fotos não
enganam. Tênis, sapatos, pantufas de time de futebol, ternos, blusas, calças,
jeans, jaquetas, chambres e roupas de crianças. Além de tudo isso, ainda
conseguimos retirar um colchão, um sofá, um capacho, livros, entre eles uma
bíblia grande, pastas com material de uma universidade. O dono da serraria
ficou de avisar seus funcionários a respeito das roupas, talvez alguém se interessasse, pois
havia roupas boas.
Tiramos
tudo, a equipe de frente, lá embaixo do barranco, retirava o material,
colocando-o em sacos de lixo, depois outra equipe os puxava para cima do
barranco e depois colocados na beira da rua, para posterior recolhimento.
O ponto do seletivo é logo ali, tão pertinho do crime.
Reflexões:
O indivíduo que joga lixo no rio é ignorante. Hipótese refutada, pelo que vimos,
frequentou o nível superior. O indivíduo que joga lixo no rio não tem uma fé,
não tem religião. Hipótese refutada, encontramos uma bíblia e um capacho de
boas vindas com motivos cristãos.
Mistérios. Foram mais de duas horas para trazer lá de
baixo toda essa irresponsabilidade que vemos nas fotos. Ignorância de um
vivente, irmão nosso aqui na Terra.
Agradecemos ao Gabriel, Michele, Débora, Vinícios, Valesca, Fabrício, Marina, Alexandre e Véra.